Cães também sentem ciúmes

Por Gabriela Mariana Alves

Não fique bravo só com sua namorada por ela ser ciumenta. 

A função do ciúme é quebrar uma ligação ameaçadora para proteger seu relacionamento, fazendo com que o “ser” ciumento busque atenção da figura de apego e aja agressivamente, principalmente contra o intruso.

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Em um pesquisa aprovada pela University of California, proprietários e cães foram recrutados para avaliar os comportamentos ciumentos dos cães. O teste foi similar ao usado para avaliar o ciúme em bebês de 6 meses de idade.

Trinta e seis cães de porte pequeno foram testados e filmados enquanto seus donos os ignoraram e interagiram com um cachorro de pelúcia que latia e abanava o rabo, uma abóbora de Halloween ou um livro que infantil que tocava musicas.  O critério de tamanho dos cães foi usado devido a possibilidade de que a o ciúmes resultaria em agressão e cães pequenos poderiam ser mais facilmente controlados.

Para o bebê humano, o ciúme é acompanhado não só pelo efeito negativo, mas também pelo elevado interesse e atenção para com a mãe enquanto ela está interagindo com o que parece ser uma outra criança. Pesquisadores da University of California encontraram efeitos similares em cães, que contemplaram jealousysignificativamente mais os seus proprietários e os objetos nas condições em que o proprietário estava exibindo carinho para com um objeto em relação à condição de leitura de controle em voz alta. Cães ainda foram significativamente mais propensos a choramingar, empurrar ou tocar os seus proprietários e o objeto na condição ciúme relativa que a abóbora de Halloween  ou condições de livros.

Os pesquisadores sugerem que a longa domesticação dos cães podem ter feito eles adquirirem habilidades sociais similares aos humanos, ou que o ciúmes pode ser uma característica de diversas outras espécies na cadeia evolutiva:  “Uma possibilidade é que o ciúme evoluiu em espécies que têm vários dependentes jovem que simultaneamente competem por recursos parentais, como alimentos, atenção, cuidado e carinho”.

Já pensou um leão com ciúmes? E você aí reclamando da sua namorada….

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Referências:

Christine R. Harris,Caroline Prouvost (2014); Jealousy in Dogs. PLoS ONE 9(7): e94597. doi:10.1371/journal.pone.0094597

O custo acumulativo de ficar acordado

Por Carlos F. Ramos

De quanto sono você realmente precisa? Van Dongen e colaboradores, pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, buscaram descobrir se a falta de sono de forma crônica tinha ou não consequências ruins nas pessoas.

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O time de Van Dongen montou um experimento na qual 48 voluntários, que normalmente dormiam cerca de 8h por noite, foram separados em quatro grupos. O primeiro foi colocado para ficar sem dormir por 3 dias consecutivos. O segundo, terceiro e quarto grupos deveriam dormir por 4h, 6h e 8h por noite, respectivamente. Esses três últimos grupos se manteriam então nessa rotina por duas semanas.

Eis o que aconteceu…

Os sujeitos que podiam dormir por 8h não mostraram qualquer diminuição cognitiva, problemas de atenção, ou diminuição da capacidade motora durante as duas semanas do estudo. Enquanto isso, os grupos que deveriam dormir apenas 4 horas e 6 horas por noite mostraram uma diminuição progressiva durante o passar dos dias. O pior desempenho foi do grupo de 4 horas, porém o grupo de 6 horas não ficou muito atrás. Mais especificamente, duas descobertas foram as mais notáveis.

Primeiramente, o débito de sono tem um custo neurobiológico que acumula com o tempo, ou seja, o tempo não dormido é um problema cumulativo. Depois de uma semana, 25% do grupo que dormiu 6h por noite estavam se sentindo sonolentos em períodos aleatórios durante o dia. Depois de duas semanas, esse mesmo grupo teve uma diminuição de performance que era comparável com a que teriam se estivessem sem dormir durante dois dias direto. E isso em termos de diminuição de performance tanto mental quanto física.

insomnia-1547964_960_720Em segundo lugar, os participantes não eram capazes de perceber seu próprio déficit de performance. Quando os participantes se auto avaliaram, eles acreditavam que sua diminuição de rendimento havia sim acontecido por alguns dias mas que havia cessado depois, como se tivessem se adaptado à nova rotina. Na verdade, a cada dia que passava eles pioravam cada vez mais. Em outras palavras, não somos bons avaliadores de nós mesmos quanto ao nosso próprio desempenho, mesmo que estejamos passando por ele naquele exato momento.

No mundo real, salas bem iluminadas, conversas sociais, alta disponibilidade de café, e diversos outros fatores podem lhe fazer sentir muito bem acordado mesmo que seu desempenho não esteja realmente satisfatório. Você pode pensar que seu rendimento no trabalho ou nos estudos se mantém igual mesmo com poucas horas de sono, mas não está. E mesmo que esse desempenho e o sono deficiente sejam o suficiente pra você, tenha em mente que poderia sim ser melhor.

A parte engraçada é que a maioria de nós já não dormimos o suficiente para termos mais horas para completarmos nossos trabalhos, mas a queda de performance atrapalha qualquer benefício que possa existir por trabalhar horas adicionais.

De acordo com o Dr. Lawrence Epstein, da Escola de Medicina de Harvard, 1 em cada 5 americanos dormem menos de seis horas por dia. A maioria dos adultos deveria buscar um sono de 8 horas diárias. Crianças, adolescentes e idosos geralmente precisam de mais ainda.

Duas partes importantes do nosso sono são o Sono Profundo (Deep Sleep) e o sono REM (Rapid Eye Moviment). Durante o ciclo de Deep Sleep nosso corpo relaxa, a respiração é regular, a pressão sanguínea cai e nossa atividade cerebral se torna menos atenta a estímulos externos, por isso fica mais difícil de acordar. Durante essa fase, crítica para a recuperação do corpo, é quando os músculos, tecidos e até o sistema imunológico se recuperam. Já o sono REM é o importante para nossa mente. É quando sonhamos, e quando nosso cérebro organiza informações, descartando as que são irrelevantes e dando prioridade para as que serão responsáveis pelas novas memórias, experiências e novas conexões sobre o dia que passou. A temperatura do corpo, a pressão sanguínea e a atividade cerebral aumentam, apesar de continuarmos praticamente imóveis. O sono REM geralmente acontece em intervalos curtos, cerca de 3 a 5 vezes por noite.

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Estágios do sono.

Sem os ciclos de sono REM e Deep Sleep sendo executados completamente durante a noite, não conseguimos nos recuperar fisicamente, o que causa (entre outras complicações) diminuição da efetividade do sistema imunológico – e suas consequências –, nem mentalmente, e ficamos com aquela sensação de cansaço depois de acordar e durante todo o dia. Claro que não é preciso nos preocuparmos tão particularmente com cada fase do nosso sono. Ao dormir a quantidade adequada de horas damos ao nosso corpo tempo o suficiente pra que ele faça seu trabalho à noite.

Para mais informações sobre o tema, e quais alternativas podemos buscar para adequar nosso ciclo de sono-vigília em busca de melhor bem-estar e produtividade, há abaixo links para artigos sobre privação do sono e para outros sites com informações mais detalhadas (em inglês).

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Referências

CARSKADON, Mary A.; DEMENT, William C. Cumulative effects of sleep restriction on daytime sleepiness. Psychophysiology, 1981, 18.2: 107-113.

CLEAR, James. The Beginner’s Guide to Getting Better Sleep, Entrepreneur Media, Inc, 2014.

GREENFIELD,B. The Last Resource You’ll Ever Need To Get Better Sleep, Ben Greenfield Fitness, 2013.

VAN DONGEN, Hans PA, et al. The cumulative cost of additional wakefulness: dose-response effects on neurobehavioral functions and sleep physiology from chronic sleep restriction and total sleep deprivation. SLEEP-NEW YORK THEN WESTCHESTER-, 2003, 26.2: 117-129.

A Interação dos pais ajuda no aprendizado de fala dos filhos?

Por Kaue Person

Estudos afirmam que os bebês antes mesmo de nascer conseguem ouvir e perceber os sons emitidos por suas mães. Depois do nascimento, durante seu primeiro ano de vida, as crianças tem uma capacidade muito grande de perceber e reconhecer sons, os chamados fonemas.

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Porém, com o passar do tempo, graças a exposição dessas crianças a sua língua nativa, essa grande capacidade de reconhecimento sofre uma redução, porque as crianças começam a prestar mais atenção aos fonemas mais frequentes no seu dia a dia, e assim, cada vez mais vão deixando de reconhecer outros fonemas não presentes em sua língua nativa, até os esquecerem.

Essa redução acontece entre os seis e doze meses de idade, mesmo período em que a percepção de sua língua nativa aumenta bastante, o que mostra uma relação entre o aprendizado de sua língua natal e a redução na percepção de sons presentes em outros idiomas.

Pesquisadores organizaram um estudo para examinar o aprendizado de fonemas de línguas estrangeiras na infância e o papel da presença humana nesse processo, assumindo que a redução na percepção de fonemas é evitável.

kids_readingPara isso, trinta e duas crianças americanas de nove meses de idade foram selecionadas e divididas em dois grupos de dezesseis crianças. Um dos grupos foi submetido a doze sessões de leitura e brincadeiras em mandarim. O outro grupo, de controle, também foi submetido a doze sessões de leitura e brincadeiras, mas nestas sessões as pessoas que tinham contato com as crianças falavam somente inglês.

Depois disso, as ondas neurais das crianças foram medidas quando elas ouviam palavras em mandarim, e foi visto que as crianças que participaram das sessões em mandarim tinham percepção dos sons, enquanto as crianças do outro grupo, o grupo controle não registraram sinais de reconhecimento dos fonemas.

Podemos explicar isso pelo fato de que as crianças foram expostas mais tempo ao inglês e acabaram por perder a capacidade de percepção de fonemas diferentes aos presentes em sua língua nativa. Da mesma forma, submeter as crianças a sessões de mandarim fez com que elas se tornassem capaz de reconhecer os fonemas deste idioma. Nota-se que ocorreu uma desaceleração na redução da percepção de fonemas destas crianças, assim como os cientistas previam.

Outro ponto analisado foi o da importância da interação humana para o aprendizado de fonemas. Para isso, novamente crianças foram escolhidas e divididas em dois grupos, um deles foi submetido a sessões de mandarim com recursos audiovisuais, e o outro grupo com recursos somente auditivos.

O mesmo teste de ondas neurais do primeiro experimento foi realizado e, por incrível que pareça, os mesmos resultados do grupo controle do primeiro experimento, que não foi exposto ao mandarim em momento algum, foram observados para os dois grupos neste segundo experimento.

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“Quando eu crescer, quero ser…”

Esses resultados sugerem que aprendizado fonético é mais do que apenas informações visuais ou auditivas, nesta idade ele é influenciado e melhorado pela presença de uma pessoa  ao vivo. A presença humana atrai a atenção da criança e motiva seu aprendizado, como podemos perceber no estudo, já que no primeiro experimento houve aprendizado fonético juntamente com interação humana, e no segundo experimento, que não houve interação, não foram registrados sinais de aprendizado.

Com estes dados, os cientistas suportam a teoria de que a aquisição da linguagem inicial, tem como base um conjunto de habilidades, de percepção, de conhecimento, e sociais. As características que facilitam a aquisição da linguagem em crianças pode ter influenciado a natureza da própria linguagem, em condições naturais.

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Referências

KUHL, Patricia et al. Foreign-language experience in infancy: Effects of short-term exposure and social interaction on phonetic learning. Center for Mind, Brain, and Learning, and Department of Speech and Hearing Sciences, University of Washington, Mailstop 357920, Seattle, WA 98195