Como a representação estática do movimento altera nossa percepção de tempo?

Escrito por Giuliana Martinatti Giorjiani

Como percebemos o tempo passar? As mudanças do ambiente ao nosso redor podem modificar a forma como percebemos a passagem do tempo?  image2A maneira como percebemos o movimento das coisas a nossa volta interfere no tempo em que esse movimento parece durar? Essas são algumas das perguntas feitas por pesquisadores que buscam entender de que maneira o nosso cérebro entende e processa o tempo. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) mostraram que até mesmo a observação de diferentes obras de arte e fotografias pode distorcer a nossa percepção de tempo.

Em um estudo dos mesmos pesquisadores da USP, fotografias de uma série de esculturas de Edgar Degas que representavam movimentos de balé foram utilizadas. Os participantes do experimento tinham de atribuir uma ‘nota’ dentro de uma escala crescente de movimento (de 1 a 7 pontos) a cimage 1ada uma das fotografias das esculturas.

Ou seja, ao ver uma fotografia, se o participante julgasse que a imagem representava muito movimento a nota dada seria mais alta do que a de imagens que representassem menos movimento para o individuo.

O principal objetivo do estudo consistia em observar de que forma a percepção do movimento poderia influenciar a percepção de tempo. Neste segundo experimento, a tarefa consistia numa ‘reprodução de tempo’. A tarefa era simples. Os participantes precisariam observar as imagens das esculturas (as mesmas imagens observadas para a pontuação da escala) que ficavam na tela por 36 segundos. O participante não sabia por quanto tempo cada imagem seria apresentada na tela, portanto, teria que se manter atento à apresentação.  Após a imagem desaparecer da tela o participante teria que ‘reproduzir’ a duração da apresentação da imagem. Simples. Ele apertava um botão do teclado – o computador image 3começava a cronometrar o tempo, sem que o participante pudesse ver o tempo correr -  quando o participante julgasse que o tempo decorrido, desde que ele apertou o botão pela primeira vez, fosse equivalente a duração da apresentação da fotografia vista, apertava um segundo botão, fazendo o computador parar o cronometro e registrar o tempo estimado.

Os resultados desse experimento foram muito interessantes. Primeiramente, notou-se que imagens que representavam uma posição mais complexa ou assimétrica do corpo da bailarina foram pontuadas com notas mais altas na escala de movimento e, posições menos complexas ou simétricas, com notas mais baixa.

Quanto ao tempo, as imagens pontuadas com maior nota tiveram a tendência de serem julgadas como durando mais tempo do que o tempo real (36s). E, imagens com a pontuação mais baixa, durando menos que o tempo real.

A principal conclusão desse estudo foi que, nós somos capazes de perceber uma tendência de movimento do corpo humano e, de certa forma, até ‘antecedermos’ o movimento natural do corpo a sua posição de equilíbrio. Essa percepção do movimento corporal é responsável por distorcer até mesmo a nossa percepção do tempo durante aquele momento. Isto é, quanto mais complexa for a representação do movimento observado, mais tempo essa fotografia representativa aparenta durar.

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Referências:

 Artigo 1 original. MOVEMENT RANKING SCALE OF HUMAN BODY STATIC IMAGES FOR SUBJECTIVE TIMING ESTIMATION – disponível em: http://www.ispsychophysics.org/fd/index.php/proceedings/article/view/200. Escala de movimento das esculturas de Edgar Degas.

Artigo 2 original. STATIC IMAGES WITH DIFFERENT INDUCED INTENSITIES OF HUMAN BODY MOVEMENTS AFFECT SUBJECTIVE TIME 1, 2 – disponível em: http://www.amsciepub.com/doi/abs/10.2466/24.25.27.PMS.113.4.157-170. Estimação temporal da duração de apresentação das imagens das esculturas de Edgar Degas. 

  

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