Atuação

*Retirado do Projeto Pedagógico

Perfil geral.

O egresso do Bacharelado em Neurociência terá um perfil com enfoque acadêmico ou aplicado, dependendo da opção do aluno. Em ambas as opções serão desenvolvidos o raciocínio crítico e a capacidade de solução de problemas inspirados na neurociência como uma abordagem interdisciplinar par excellence. Na matriz do curso, como na UFABC em geral, o aluno possui ampla autonomia para traçar uma formação que pode atender a diferentes enfoques profissionais.

O perfil acadêmico será escolhido por alunos que desejam dar continuidade a práticas de docência e pesquisa. O Bacharel em Neurociência com este perfil terá um amplo conhecimento de abordagens experimentais, teorias contemporâneas, domínio da literatura e capacidade de criar e desenvolver projetos de pesquisa. Ao procurar complementar a formação acadêmica, este egresso deve solicitar o doutorado direto em neurociência.

O perfil aplicado será escolhido por alunos que pretendem atuar em empresas ou nos setores público e privado de saúde (ex. hospitais, clínicas e laboratórios). Este profissional terá um profundo conhecimento técnico/ científico para participar no desenvolvimento de novos fármacos e novas tecnologias para melhoria da qualidade de vida. Mais especificamente, ele será capacitado a traçar e atingir metas, definir estratégias, formular novas hipóteses e auxiliar no desenvolvimento de técnicas diagnósticas e de tratamento para distúrbios do comportamento. É preciso ressaltar que o bacharel em neurociência não substituirá outros profissionais em procedimentos privativos a médicos, farmacêuticos ou psicólogos. No entanto, o bacharel em neurociência estará em uma posição privilegiada para se comunicar com estes e outros profissionais e providenciar assessoria ou assistência valiosa.

O bacharel em neurociência ainda tem a opção de usar o conhecimento adquirido para desenvolver uma idéia, por em prática em um modelo comercial e tornar-se dono de uma empresa em uma área da neurociência aplicada. Um egresso com espírito empreendedor também pode atuar como assessor independente prestando serviços a organizações e à indústria e áreas como ergonomia cognitiva ou neuroeconomia. O aluno com este perfil terá espaço nas disciplinas livres para cursar disciplinas relacionadas a administração de empresas, ou pode escolher para se aprofundar mais em gestão de empresas fazendo um MBA ou curso relacionado.

Assim como nos mais diferentes cursos existentes, o bacharel em neurociência estará apto a trabalhar nas áreas descritas acima ao término de seu curso, conforme as ênfases escolhidas pelo aluno em disciplinas optativas e estágios. Terá um forte preparo e incentivo para se manter constantemente atualizado em Neurociência e se aperfeiçoar na área de escolha de atuação.

Campos de atuação profissional em neurociência biológica.

Como o bacharel em neurociência ainda não existe no país, não há precedentes nos quais embasar estatísticas que seriam válidas para o cenário nacional. No exterior, neurocientistas que não se vinculam a um laboratório de pesquisa são empregados em órgãos do governo, em empresas de biotecnologia, de farmacêutica ou de instrumentos médicos e em hospitais ou centros médicos. Introduzindo o egresso ao conhecimento tanto da ciência básica como da ciência aplicada, a graduação em neurociência prepara um profissional que pode ser inserido no mundo acadêmico, no mundo empresarial ou governamental, ou ainda servir como ponte entre estes dois mundos, na área da pesquisa translacional.

O bacharelado em neurociência combina o conhecimento proveniente das áreas mais tradicionais da ciência com um fundamento metodológico sólido e experiência profissional. Pode-se esperar, como em outros países, que o bacharel em neurociência seja apreciado em laboratórios, como técnico ou pesquisador, por dominar métodos contemporâneos na esfera das ciências biológicas. A explosão de técnicas de manipulação de material biológico, por exemplo em procedimentos diagnósticos, gera uma demanda de profissionais com experiência em hospitais ou empresas privadas no campo da biotecnologia. Por exemplo, um neurocientista pode contribuir na avaliação neurológica de novos remédios em fase de pré-teste. A formação interdisciplinar se traduz na habilidade do egresso de comunicar, interagir e coordenar colaboradores de diferentes áreas em equipes multidisciplinares. O treinamento na tradução da ciência para diversas platéias beneficia o bacharel em neurociência em posições que envolvem a comunicação para outros profissionais, como na representação comercial de fabricantes em equipamentos científicos e na divulgação de descobertas científicas para o público leigo. O neurocientista também cumpre um papel importante na execução e interpretação de resultados de estudos diagnósticos do sistema nervoso, desde testes genéticos ou proteômicos até ressonância magnética funcional ou eletroencefalografia, em colaboração com outros profissionais da área biomédica.

Com uma sociedade que voltou a atenção para o sofrimento e os problemas sociais decorrentes do abuso de drogas ilegais e legais, as autoridades públicas são pressionadas a priorizar intervenções na esfera da saúde pública. Como substâncias psicoativas atuam no sistema nervoso, o neurocientista é o consultor natural na exploração das seqüelas do abuso ao longo prazo, os efeitos na memória e em outras funções cognitivas ou motivacionais, questões legais de responsabilidade, estratégias de prevenção e contenção do problema. Como especialista na área da interação entre cérebro e comportamento, o bacharel em neurociência complementa equipes de médicos, psicólogos, farmacêuticos, enfermeiros e cientistas sociais neste e em outros problemas impactantes de saúde pública.

Campos de atuação profissional em neurociência computacional e cognitiva.

É a cognição que transforma informação em conhecimento, o que indica a importância do cérebro e da inteligência no que é chamado a era da informação. Em termos de conjuntura, o Brasil está em transição de país exportador de matéria-prima para uma sociedade que abriga setores secundário e terciário em plena ascensão, o que alimenta uma emancipação tecnológica. O clima financeiro nacional favorece o investimento em pesquisa e desenvolvimento e o momento é oportuno para a elaboração de tecnologias de processamento inteligente de informação na indústria e nos serviços. O papel da inteligência artificial, que sempre foi inspirada na inteligência natural, continua crescendo. Com o surgimento de plataformas de computação que possibilitam a implementação de processos de percepção, raciocínio, aprendizagem, decisão e linguagem, a análise de processos cognitivos em humanos e outros organismos se tornará de mais em mais importante. Destaca-se, como exemplo estratégico nacional, a Petrobras como um grande consumidor atual de inteligência artificial. Dependendo do porte da empresa em questão, um neurocientista com formação interdisciplinar pode ser lotado em um setor de P&D ou contratado como consultor em projetos terceirizados para analisar ou assistir na implementação de sistemas de detecção de erros e fraude, identificação de padrões, análise adaptativa de informação em robótica, mineração de dados, aprendizagem não-supervisionada, análise e síntese de linguagem, interpretação de imagens, software pró-ativa, entre outras aplicações.

Outra evolução importante, demográfica, é o envelhecimento da população. O envelhecimento, mesmo saudável, traz certos prejuízos cognitivos cujas causas, por enquanto, só são parcialmente compreendidas. A questão ocupa uma posição central na neurociência biológica, onde a busca pelas causas de diversos tipos de degeneração cognitiva e a procura por meios farmacológicos e artefatos como dispositivos de estimulação cerebral para intervir são intensas. Adicionalmente, a neurociência cognitiva dispõe das ferramentas para melhorar a independência, e portanto, a qualidade de vida, de idosos saudáveis ou pacientes com determinados sintomas neuropsicológicos, por exemplo desenvolvendo técnicas de reabilitação parcial ou compensação cognitiva, ou sugerindo mudanças no ambiente que assistam ou facilitem funções cognitivas. Um graduado em neurociências pode ser encarregado com a projeção de adaptações deste tipo nos diversos âmbitos visitados por pessoas com um funcionamento cognitivo prejudicado. Este é um exemplo de uma aplicação na área conhecida como ergonomia cognitiva, campo de fatores humanos que não só se dedica a questões de compensação por perda de funções cognitivas, mas também a otimização da comunicação e da interface homem-máquina para prevenir erros e para aumentar a produtividade em, por exemplo, ambientes industriais ou educacionais. Egressos podem participar no desenho racional de interfaces cruciais com alta demanda atencional, um exemplo típico sendo a cabina de pilotagem de um avião, de novos pictogramas facilmente identificáveis, de tabelas e mapas informativos intuitivos para uso em espaços públicos, da sinalização eficiente no trânsito, do desenho de web-sites e do planejamento de documentos em geral. O perfil de neurocientista interdisciplinar com experiência nesta área é relevante tanto para instituições públicas como para empresas privadas.

O potencial da neurociência em questões de julgamento e decisão tem atraído a atenção de empresas de marketing e gerentes econômicos. A análise e modelagem de preferências e comportamento de compra ocupa um espaço importante em empreendimentos que dependem do comportamento de um mercado. Neurocientistas também aplicam este conhecimento a preferências políticas, tendo como exemplo concreto a assessoria de um neurocientista estadunidense encomendada por um grande partido político brasileiro em eleições anteriores. A avaliação subjetiva de riscos e o impacto do estado emocional e de estresse impacta decisões financeiras em todos os níveis, e tem sido reconhecido como elemento importante em movimentações em mercados de ações e outros produtos de especulação. Teorias desenvolvidas em áreas relacionadas à neurociência ajudam a entender as interações dinâmicas complexas que ocorrem dentro e entre indivíduos. Registros psicobiológicos, psicofisiológicos e eletroencefálicos permitem o estudo de estados como surpresa, ansiedade ou satisfação no campo, enquanto técnicas de neuroimagem permitem o estudo dos circuitos neurais envolvidos. Com a renovação do interesse em componentes psicológicos da decisão econômica, a psicologia econômica e o neuromarketing crescerão como áreas de atuação de formados em neurociência.

Finalmente, com uma sólida formação em ciências básicas e aplicadas, em metodologia, e em comunicação científica, os egressos do Bacharelado em Neurociência podem se adaptar a diversos ambientes de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico além do jornalismo científico em áreas relacionadas. Neste momento, a sociedade, ao mesmo tempo fascinada e amedrontada pelos grandes passos com quais a neurociência avança, não só em pesquisa básica mas também em intervenções na vida tangível, precisa de tradutores críticos.

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