Cães também sentem ciúmes

Por Gabriela Mariana Alves

Não fique bravo só com sua namorada por ela ser ciumenta. 

A função do ciúme é quebrar uma ligação ameaçadora para proteger seu relacionamento, fazendo com que o “ser” ciumento busque atenção da figura de apego e aja agressivamente, principalmente contra o intruso.

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Em um pesquisa aprovada pela University of California, proprietários e cães foram recrutados para avaliar os comportamentos ciumentos dos cães. O teste foi similar ao usado para avaliar o ciúme em bebês de 6 meses de idade.

Trinta e seis cães de porte pequeno foram testados e filmados enquanto seus donos os ignoraram e interagiram com um cachorro de pelúcia que latia e abanava o rabo, uma abóbora de Halloween ou um livro que infantil que tocava musicas.  O critério de tamanho dos cães foi usado devido a possibilidade de que a o ciúmes resultaria em agressão e cães pequenos poderiam ser mais facilmente controlados.

Para o bebê humano, o ciúme é acompanhado não só pelo efeito negativo, mas também pelo elevado interesse e atenção para com a mãe enquanto ela está interagindo com o que parece ser uma outra criança. Pesquisadores da University of California encontraram efeitos similares em cães, que contemplaram jealousysignificativamente mais os seus proprietários e os objetos nas condições em que o proprietário estava exibindo carinho para com um objeto em relação à condição de leitura de controle em voz alta. Cães ainda foram significativamente mais propensos a choramingar, empurrar ou tocar os seus proprietários e o objeto na condição ciúme relativa que a abóbora de Halloween  ou condições de livros.

Os pesquisadores sugerem que a longa domesticação dos cães podem ter feito eles adquirirem habilidades sociais similares aos humanos, ou que o ciúmes pode ser uma característica de diversas outras espécies na cadeia evolutiva:  “Uma possibilidade é que o ciúme evoluiu em espécies que têm vários dependentes jovem que simultaneamente competem por recursos parentais, como alimentos, atenção, cuidado e carinho”.

Já pensou um leão com ciúmes? E você aí reclamando da sua namorada….

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Referências:

Christine R. Harris,Caroline Prouvost (2014); Jealousy in Dogs. PLoS ONE 9(7): e94597. doi:10.1371/journal.pone.0094597

O custo acumulativo de ficar acordado

Por Carlos F. Ramos

De quanto sono você realmente precisa? Van Dongen e colaboradores, pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, buscaram descobrir se a falta de sono de forma crônica tinha ou não consequências ruins nas pessoas.

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O time de Van Dongen montou um experimento na qual 48 voluntários, que normalmente dormiam cerca de 8h por noite, foram separados em quatro grupos. O primeiro foi colocado para ficar sem dormir por 3 dias consecutivos. O segundo, terceiro e quarto grupos deveriam dormir por 4h, 6h e 8h por noite, respectivamente. Esses três últimos grupos se manteriam então nessa rotina por duas semanas.

Eis o que aconteceu…

Os sujeitos que podiam dormir por 8h não mostraram qualquer diminuição cognitiva, problemas de atenção, ou diminuição da capacidade motora durante as duas semanas do estudo. Enquanto isso, os grupos que deveriam dormir apenas 4 horas e 6 horas por noite mostraram uma diminuição progressiva durante o passar dos dias. O pior desempenho foi do grupo de 4 horas, porém o grupo de 6 horas não ficou muito atrás. Mais especificamente, duas descobertas foram as mais notáveis.

Primeiramente, o débito de sono tem um custo neurobiológico que acumula com o tempo, ou seja, o tempo não dormido é um problema cumulativo. Depois de uma semana, 25% do grupo que dormiu 6h por noite estavam se sentindo sonolentos em períodos aleatórios durante o dia. Depois de duas semanas, esse mesmo grupo teve uma diminuição de performance que era comparável com a que teriam se estivessem sem dormir durante dois dias direto. E isso em termos de diminuição de performance tanto mental quanto física.

insomnia-1547964_960_720Em segundo lugar, os participantes não eram capazes de perceber seu próprio déficit de performance. Quando os participantes se auto avaliaram, eles acreditavam que sua diminuição de rendimento havia sim acontecido por alguns dias mas que havia cessado depois, como se tivessem se adaptado à nova rotina. Na verdade, a cada dia que passava eles pioravam cada vez mais. Em outras palavras, não somos bons avaliadores de nós mesmos quanto ao nosso próprio desempenho, mesmo que estejamos passando por ele naquele exato momento.

No mundo real, salas bem iluminadas, conversas sociais, alta disponibilidade de café, e diversos outros fatores podem lhe fazer sentir muito bem acordado mesmo que seu desempenho não esteja realmente satisfatório. Você pode pensar que seu rendimento no trabalho ou nos estudos se mantém igual mesmo com poucas horas de sono, mas não está. E mesmo que esse desempenho e o sono deficiente sejam o suficiente pra você, tenha em mente que poderia sim ser melhor.

A parte engraçada é que a maioria de nós já não dormimos o suficiente para termos mais horas para completarmos nossos trabalhos, mas a queda de performance atrapalha qualquer benefício que possa existir por trabalhar horas adicionais.

De acordo com o Dr. Lawrence Epstein, da Escola de Medicina de Harvard, 1 em cada 5 americanos dormem menos de seis horas por dia. A maioria dos adultos deveria buscar um sono de 8 horas diárias. Crianças, adolescentes e idosos geralmente precisam de mais ainda.

Duas partes importantes do nosso sono são o Sono Profundo (Deep Sleep) e o sono REM (Rapid Eye Moviment). Durante o ciclo de Deep Sleep nosso corpo relaxa, a respiração é regular, a pressão sanguínea cai e nossa atividade cerebral se torna menos atenta a estímulos externos, por isso fica mais difícil de acordar. Durante essa fase, crítica para a recuperação do corpo, é quando os músculos, tecidos e até o sistema imunológico se recuperam. Já o sono REM é o importante para nossa mente. É quando sonhamos, e quando nosso cérebro organiza informações, descartando as que são irrelevantes e dando prioridade para as que serão responsáveis pelas novas memórias, experiências e novas conexões sobre o dia que passou. A temperatura do corpo, a pressão sanguínea e a atividade cerebral aumentam, apesar de continuarmos praticamente imóveis. O sono REM geralmente acontece em intervalos curtos, cerca de 3 a 5 vezes por noite.

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Estágios do sono.

Sem os ciclos de sono REM e Deep Sleep sendo executados completamente durante a noite, não conseguimos nos recuperar fisicamente, o que causa (entre outras complicações) diminuição da efetividade do sistema imunológico – e suas consequências –, nem mentalmente, e ficamos com aquela sensação de cansaço depois de acordar e durante todo o dia. Claro que não é preciso nos preocuparmos tão particularmente com cada fase do nosso sono. Ao dormir a quantidade adequada de horas damos ao nosso corpo tempo o suficiente pra que ele faça seu trabalho à noite.

Para mais informações sobre o tema, e quais alternativas podemos buscar para adequar nosso ciclo de sono-vigília em busca de melhor bem-estar e produtividade, há abaixo links para artigos sobre privação do sono e para outros sites com informações mais detalhadas (em inglês).

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Referências

CARSKADON, Mary A.; DEMENT, William C. Cumulative effects of sleep restriction on daytime sleepiness. Psychophysiology, 1981, 18.2: 107-113.

CLEAR, James. The Beginner’s Guide to Getting Better Sleep, Entrepreneur Media, Inc, 2014.

GREENFIELD,B. The Last Resource You’ll Ever Need To Get Better Sleep, Ben Greenfield Fitness, 2013.

VAN DONGEN, Hans PA, et al. The cumulative cost of additional wakefulness: dose-response effects on neurobehavioral functions and sleep physiology from chronic sleep restriction and total sleep deprivation. SLEEP-NEW YORK THEN WESTCHESTER-, 2003, 26.2: 117-129.

A Interação dos pais ajuda no aprendizado de fala dos filhos?

Por Kaue Person

Estudos afirmam que os bebês antes mesmo de nascer conseguem ouvir e perceber os sons emitidos por suas mães. Depois do nascimento, durante seu primeiro ano de vida, as crianças tem uma capacidade muito grande de perceber e reconhecer sons, os chamados fonemas.

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Porém, com o passar do tempo, graças a exposição dessas crianças a sua língua nativa, essa grande capacidade de reconhecimento sofre uma redução, porque as crianças começam a prestar mais atenção aos fonemas mais frequentes no seu dia a dia, e assim, cada vez mais vão deixando de reconhecer outros fonemas não presentes em sua língua nativa, até os esquecerem.

Essa redução acontece entre os seis e doze meses de idade, mesmo período em que a percepção de sua língua nativa aumenta bastante, o que mostra uma relação entre o aprendizado de sua língua natal e a redução na percepção de sons presentes em outros idiomas.

Pesquisadores organizaram um estudo para examinar o aprendizado de fonemas de línguas estrangeiras na infância e o papel da presença humana nesse processo, assumindo que a redução na percepção de fonemas é evitável.

kids_readingPara isso, trinta e duas crianças americanas de nove meses de idade foram selecionadas e divididas em dois grupos de dezesseis crianças. Um dos grupos foi submetido a doze sessões de leitura e brincadeiras em mandarim. O outro grupo, de controle, também foi submetido a doze sessões de leitura e brincadeiras, mas nestas sessões as pessoas que tinham contato com as crianças falavam somente inglês.

Depois disso, as ondas neurais das crianças foram medidas quando elas ouviam palavras em mandarim, e foi visto que as crianças que participaram das sessões em mandarim tinham percepção dos sons, enquanto as crianças do outro grupo, o grupo controle não registraram sinais de reconhecimento dos fonemas.

Podemos explicar isso pelo fato de que as crianças foram expostas mais tempo ao inglês e acabaram por perder a capacidade de percepção de fonemas diferentes aos presentes em sua língua nativa. Da mesma forma, submeter as crianças a sessões de mandarim fez com que elas se tornassem capaz de reconhecer os fonemas deste idioma. Nota-se que ocorreu uma desaceleração na redução da percepção de fonemas destas crianças, assim como os cientistas previam.

Outro ponto analisado foi o da importância da interação humana para o aprendizado de fonemas. Para isso, novamente crianças foram escolhidas e divididas em dois grupos, um deles foi submetido a sessões de mandarim com recursos audiovisuais, e o outro grupo com recursos somente auditivos.

O mesmo teste de ondas neurais do primeiro experimento foi realizado e, por incrível que pareça, os mesmos resultados do grupo controle do primeiro experimento, que não foi exposto ao mandarim em momento algum, foram observados para os dois grupos neste segundo experimento.

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“Quando eu crescer, quero ser…”

Esses resultados sugerem que aprendizado fonético é mais do que apenas informações visuais ou auditivas, nesta idade ele é influenciado e melhorado pela presença de uma pessoa  ao vivo. A presença humana atrai a atenção da criança e motiva seu aprendizado, como podemos perceber no estudo, já que no primeiro experimento houve aprendizado fonético juntamente com interação humana, e no segundo experimento, que não houve interação, não foram registrados sinais de aprendizado.

Com estes dados, os cientistas suportam a teoria de que a aquisição da linguagem inicial, tem como base um conjunto de habilidades, de percepção, de conhecimento, e sociais. As características que facilitam a aquisição da linguagem em crianças pode ter influenciado a natureza da própria linguagem, em condições naturais.

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Referências

KUHL, Patricia et al. Foreign-language experience in infancy: Effects of short-term exposure and social interaction on phonetic learning. Center for Mind, Brain, and Learning, and Department of Speech and Hearing Sciences, University of Washington, Mailstop 357920, Seattle, WA 98195

Como a representação estática do movimento altera nossa percepção de tempo?

Escrito por Giuliana Martinatti Giorjiani

Como percebemos o tempo passar? As mudanças do ambiente ao nosso redor podem modificar a forma como percebemos a passagem do tempo?  image2A maneira como percebemos o movimento das coisas a nossa volta interfere no tempo em que esse movimento parece durar? Essas são algumas das perguntas feitas por pesquisadores que buscam entender de que maneira o nosso cérebro entende e processa o tempo. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) mostraram que até mesmo a observação de diferentes obras de arte e fotografias pode distorcer a nossa percepção de tempo.

Em um estudo dos mesmos pesquisadores da USP, fotografias de uma série de esculturas de Edgar Degas que representavam movimentos de balé foram utilizadas. Os participantes do experimento tinham de atribuir uma ‘nota’ dentro de uma escala crescente de movimento (de 1 a 7 pontos) a cimage 1ada uma das fotografias das esculturas.

Ou seja, ao ver uma fotografia, se o participante julgasse que a imagem representava muito movimento a nota dada seria mais alta do que a de imagens que representassem menos movimento para o individuo.

O principal objetivo do estudo consistia em observar de que forma a percepção do movimento poderia influenciar a percepção de tempo. Neste segundo experimento, a tarefa consistia numa ‘reprodução de tempo’. A tarefa era simples. Os participantes precisariam observar as imagens das esculturas (as mesmas imagens observadas para a pontuação da escala) que ficavam na tela por 36 segundos. O participante não sabia por quanto tempo cada imagem seria apresentada na tela, portanto, teria que se manter atento à apresentação.  Após a imagem desaparecer da tela o participante teria que ‘reproduzir’ a duração da apresentação da imagem. Simples. Ele apertava um botão do teclado – o computador image 3começava a cronometrar o tempo, sem que o participante pudesse ver o tempo correr -  quando o participante julgasse que o tempo decorrido, desde que ele apertou o botão pela primeira vez, fosse equivalente a duração da apresentação da fotografia vista, apertava um segundo botão, fazendo o computador parar o cronometro e registrar o tempo estimado.

Os resultados desse experimento foram muito interessantes. Primeiramente, notou-se que imagens que representavam uma posição mais complexa ou assimétrica do corpo da bailarina foram pontuadas com notas mais altas na escala de movimento e, posições menos complexas ou simétricas, com notas mais baixa.

Quanto ao tempo, as imagens pontuadas com maior nota tiveram a tendência de serem julgadas como durando mais tempo do que o tempo real (36s). E, imagens com a pontuação mais baixa, durando menos que o tempo real.

A principal conclusão desse estudo foi que, nós somos capazes de perceber uma tendência de movimento do corpo humano e, de certa forma, até ‘antecedermos’ o movimento natural do corpo a sua posição de equilíbrio. Essa percepção do movimento corporal é responsável por distorcer até mesmo a nossa percepção do tempo durante aquele momento. Isto é, quanto mais complexa for a representação do movimento observado, mais tempo essa fotografia representativa aparenta durar.

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Referências:

 Artigo 1 original. MOVEMENT RANKING SCALE OF HUMAN BODY STATIC IMAGES FOR SUBJECTIVE TIMING ESTIMATION – disponível em: http://www.ispsychophysics.org/fd/index.php/proceedings/article/view/200. Escala de movimento das esculturas de Edgar Degas.

Artigo 2 original. STATIC IMAGES WITH DIFFERENT INDUCED INTENSITIES OF HUMAN BODY MOVEMENTS AFFECT SUBJECTIVE TIME 1, 2 – disponível em: http://www.amsciepub.com/doi/abs/10.2466/24.25.27.PMS.113.4.157-170. Estimação temporal da duração de apresentação das imagens das esculturas de Edgar Degas. 

  

Chocolate, um prazer que pode ser mais saudável do que você imagina…

Por Camila Amaral Passos

Cientistas mostraram que benefícios do chocolate envolve aumento na capacidade cognitiva. O chocolate muitas vezes é considerado como inimigo. Inimigo da dieta, inimigo da boa alimentação, e em algumas vezes, inimigo da saúde. Será mesmo?

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Pesquisadores da Universidade de L’Aquila, na Itália, apresentaram um estudo onde adultos com comprometimento cognitivo leve (mild cognitive impairment – MCI, em inglês), que consumiram dosagens específicas de flavonoides de cacau tiveram um aumento significativo na capacidade cognitiva. Flavonoides são compostos químicos que se comportam como antioxidantes, e que se consumidos na quantidade correta, possuem benefícios para o corpo humano.

O estudo comprova que consumir flavonoides de cacau como parte de uma dieta balanceada, em uma quantidade apropriada, pode aumentar a capacidade cognitiva. Os pesquisadores utilizaram 90 idosos com MCI para o estudo. Escolhidos aleatoriamente, alguns tomaram 900mg (dose alta), outros 520mg (dose média) e outros tomaram 45mg (dose baixa) de uma bebida contendo os flavonoides de cacau por 8 semanas. Também foram instruídos a não consumirem flavonoides através de outras fontes, como em maçãs, uva e vinho tinto.

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Depois, os idosos foram submetidos a testes cognitivos, onde os que tomaram a maior dose tiveram resultados muito melhores nos testes, e mesmo os que tomaram a dose média e a dose baixa tiveram melhoras nos resultados também. Os idosos tiveram maior habilidade em questões de memória, em tarefas gerais, memória verbal, respostas motoras, e a resistência à insulina e a pressão sanguínea também diminuíram nos grupos que consumiram as doses alta e intermediária.

Porém, isso não significa que devemos sair comendo chocolate por aí, já que ele pode ter altos níveis de gordura e calorias. Segundo outro estudo dos mesmos pesquisadores, o ideal é utilizar o chocolate amargo (com pelo menos 80% de cacau), pois ele contém a maior quantidade de flavonoides. Por isso, quando bater aquela vontade de comer um chocolate, por que não trocar o chocolate ao leite por um quadradinho de uma barra de chocolate amargo? Sua saúde agradece e seu paladar também!

 

Referências

Grassi, Davide, et al. “Protective effects of flavanol-rich dark chocolate on endothelial function and wave reflection during acute hyperglycemia.”Hypertension 60.3 (2012): 827-832.

Desideri, Giovambattista, et al. “Benefits in Cognitive Function, Blood Pressure, and Insulin Resistance Through Cocoa Flavanol Consumption in Elderly Subjects With Mild Cognitive Impairment The Cocoa, Cognition, and Aging (CoCoA) Study.” Hypertension 60.3 (2012): 794-801.

O segredo dos lutadores de MMA para suportar a dor

Por Attalya Felix

Tenho certeza de que você já se perguntou como lutadores de MMA suportam tanta dor dos traumas que sofrem dentro dos octógonos. Na edição 190 do UFC, a lutadora Cláudia Gadelha fraturou um dedo da mão direita no primeiro round ao quebrar o nariz de sua desafiante Jessica Aguilar. Todos nós sabemos como uma pancadinha no nariz dói, e alguns infelizmente já experimentaram as aflições de ter um dedo quebrado, ou nem tanto, luxado apenas. Imagina então continuar a lutar até o fim do último round com o nariz espirrando sangue ou dando socos com um dedo quebrado desde o round inicial. Como elas suportam tanta dor?

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Não há uma ciência exata por trás da analgesia que esses atletas experimentam, mas há diversos estudos que tentam esclarecer um pouco dos mecanismos que ocorrem no sistema nervoso do atleta para que ele possa ignorar a dor. Vamos começar por uma teoria interessante que pode explicar como a faixa apertada por baixo das luvas justas de Cláudia poderiam ajudar a enganar um pouco da dor sentida depois que ela quebrou o dedo. A Teoria do Portão da Dor surgiu em 1965 através dos estudos de Pat Wall e Ron Melzack, essa teoria ajuda a entender porque apertar seu dedo depois de prendê-lo na porta “engana” a dor.

Ao quebrar o dedo, o corpo de nossa campeã começa a responder à lesão com um processo inflamatório Picture1naquela região, essa inflamação sensibiliza o tecido o qual ao menor toque deveria gerar uma dor imensa! Temos minúsculas terminações nervosas por todo o corpo, elas captam informações sobre temperatura, dor, tato e sobem pela medula espinhal através de impulsos elétricos informando o nosso cérebro sobre modificações causadas por fatores externos na nossa superfície corporal. Mas não, os lutadores não nasceram predestinados a sofrerem menos dor. É verdade que cada pessoa possui uma tolerância diferente à dor. Alguns choram ao fazer uma tatuagem, outros sentem cócegas. O que dita então quanta dor você sente ou tolera?

A Teoria do Portão tem uma boa explicação para isso. Como o nome sugere, existe uma camada de células na nossa medula espinhal chamada substância gelatinosa que funciona como um portão, ele se fecha para um tapinha nas costas, mas se abre para um dedo quebrado, fazendo o estímulo subir até o cérebro, gerando a experiência que você chama de dor. Os estímulos que provocam a dor são chamados de nociceptivos, só que para percebermos a dor estes estímulos têm que passar pelo portão da dor e chegar ao cérebro.

As terminações nervosas são extremidades de neurônios, as células que formam nosso sistema nervoso (inclusive os nervos), elas são bastante sensíveis a qualquer mudança física ambiente que entre em contato com a sua pele, estão distribuídas pelo corpo todo e convergem para a medula espinhal formando longas fibras nervosas. Podemos dizer que dois tipos de fibras agem nesse portão da dor na substância gelatinosa. As primeiras são as fibras finas, elas transmitem a informação de que há um dedo quebrado, algo nocivo acontecendo, e elas são um pouco lentas se comparadas às fibras grossas. Cobertas por mielina, um isolante natural que faz a informação elétrica dos neurônios possuir uma condução “saltatória” (mais rápida), as fibras grossas recebem informações de estimulações táteis, como aquela pressão que você sente ao receber uma massagem.

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Fonte: How Stuff Works

Essas fibras grossas, diminuem a ação das fibras finas ao chegarem no portão da dor, fazendo com que a intensidade dela diminua, ao mesmo tempo as fibras grossas possuem um feixe que se conecta direto ao seu cérebro. Elas não precisam necessariamente passar pelo portão e serem julgadas se são fortes o suficiente para gerar um alarde lá em cima ou não. Afinal, você deve sentir pequenas pressões, mesmo um toque extremamente leve em sua mão. Como já havia citado, a mielina – um tipo de lipídeo que faz o impulso elétrico percorrer o fio de maneira saltatória -, faz estes estímulos chegarem de maneira muito rápida ao encéfalo, avisando-nos que há algo fazendo pressão em algum ponto do nosso corpo. A pressão da luva apertada da lutadora, manda essas mensagens ao seu sistema nervoso central, o que ajuda a enganar a dor que ela deveria estar percebendo.

Mas se você já quebrou um osso, você sabe muito bem que não adianta só apertar pra dor passar. A não ser que você tenha-o quebrado na final de uma disputa de algum campeonato, ou fugindo de alguma coisa que tenha ameaçado seriamente sua vida. Outra contribuição para esse estado de analgesia experimentada pela nossa atleta é a descarga incrível de hormônios na corrente sanguínea que seu corpo gera na hora da luta. Imagine-se um lutador antes de entrar no octógono, o momento para o qual tem treinado por meses a fio, ao identificar a carga emocional que aquela situação exige, nosso sistema nervoso entra em um estado chamado de luta-ou-fuga, estimulando a produção de noradrenalina no sistema nervoso simpático, conhecida como um potente analgésico, os altos níveis de noradrenalina suprimirão a dor. Com o constante estresse gerado, o hipotálamo, estrutura do nosso encéfalo que comanda respostas instintivas, envia um hormônio liberador de cortocotrofina (CRH) para a hipófise estimulando a liberação do hormônio adrenocorticotrófico, que chegando ao córtex de sua glândula suprarrenal estimula a produção de cortisol, o hormônio do stress, que também funcionará como um analgésico e anti-inflamatório.

Uma vez que a agitação da luta tenha passado e a euforia de derrotar seu oponente tenha se esvaído, a dor certamente será percebida pelo seu cérebro. Mas existe um truque ainda para enganar um pouco mais a sua dor. A imersão no gelo. Da mesma forma que a pressão ajuda a contrapor o sinal que passa pelo portão da dor lá na medula, a mudança de temperatura também pode ajudar. E isso não acontece com um estímulo térmico qualquer, tem que ser com temperaturas baixas, pois assim os nervos periféricos conduzem a informação de forma mais lenta, e ainda mais, esse efeito acontece especialmente em fibras desmielinizadas, como as fibras finas que conduzem a dor, enquanto as fibras rápidas mielinizadas  ficam livres para alterar sua perceção. Além de tudo parece que o contato com baixas temperaturas libera mais endorfina, substância que age também como um anestésico e proporciona uma sensação de prazer. E claro, pra finalizar, uma forcinha de mais alguns medicamentos analgésicos durante um tempinho pra dar uma acelerada no processo de recuperação e começar a se preparar para a próxima luta!

Sessão “O que é?” – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

Por Alisson Ortega

O TDAH é um distúrbio biológico relacionado ao sistema nervoso central. Neste transtorno são notadas alterações na região frontal do cérebro, bem como na sua comunicação com demais regiões do cérebro. Os principais neurotransmissores envolvidos nesta patologia são a dopamina e a noradrenalina.

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Estudos mostram carga genética relacionada a ocorrência do TDAH, ou seja, se os pais possuem este distúrbio a chance de os filhos apresentarem déficit de atenção é maior. No entanto o consumo de álcool durante a gravidez pode levar a alterações na região frontal do cérebro e pesquisas apontaram que mães que abusaram de álcool durante a gravidez tem maior probabilidade de dar a luz a filhos com sintomas do TDAH, como hiperatividade e desatenção.

Os sintomas gerais da patologia são a desatenção, hiperatividade e a impulsividade. Em crianças com TDAH normalmente os meninos são mais hiperativos e impulsivos, mas a desatenção é igual entre ambos sexos. As crianças não conseguem ficar paradas muito tempo em um mesmo lugar, principalmente os meninos, isso reflete problemas escolares, pois o aluno não foca sua atenção à aula em muitos momentos e pode errar questões simples por desatenção, além disso apresentam impulsividade, respondendo questões antes do momento apropriado ou não tendo paciência de esperar a sua vez.

Os adolescentes diagnosticados com este distúrbio possuem problemas de comportamento e adultos são esquecidos e inquietos, com dificuldades de organização e planejamento de tarefas diárias, além disso podem apresentar outros problemas associados ao TDAH, como uso de drogas ou doenças como ansiedade e depressão.

O diagnóstico em crianças e adolescentes é realizado por um médico, baseando-se nos sintomas, sendo que alguns desses sintomas devem estar presentes na criança antes dos 7 anos de idade e em pelo menos 2 locais diferentes, além disso esses sintomas devem atrapalhar, de alguma forma, a vida da criança, seja na escola ou em casa e pela verificação de comorbidades. No caso do diagnóstico de adultos alguns sintomas devem estar presentes, pelo menos, desde os 12 anos.

O tratamento do TDAH normalmente é feito com medicamento e terapia psicológica. Alguns dos medicamentos utilizados são estimulantes ou antidepressivos; entre eles se destaca, principalmente, o estimulante conhecido pelo nome comercial de ritalina.

Sessão “O que é?” – Neurotransmissores?

Por Alisson Ortega

Parte da comunicação entre neurônios ocorre por um tipo de moléculas especializadas, chamados neurotransmissores (NT), mas afinal o que são eles? São pequenas moléculas, na maioria das vezes, oriundas de proteínas e geralmente podemos encontrá-los em vesículas no terminal axonal (pré-sináptico) [para mais informações, leia o post "O que é o neurônio".

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Os principais NT conhecidos são Serotonina (5HT), Glutamato, Dopamina (DA), Ácido Gama Amino Butírico (GABA), Noradrenalina/Norepinefrina, Adrenalina/Epinefrina, Acetilcolina (ACh), além de peptídeos. Cada um desses neurotransmissores atua em locais específicos e causam reações biológicas únicas. Um único neurônio não possui todos os neurotransmissores dentro dele, mas apenas um deles, ou, em alguns casos, dois diferentes. Esses NT são liberados na fenda sináptica, para a comunicação entre os neurônios, e cada um se liga a um receptor específico no terminal dendrítico (pós-sináptico), como se fosse uma chave em uma fechadura. Após isto podem ser degradados ou recapturados pelo axônio pré-sináptico. Podemos notar dois efeitos principais pela ação dos NT, um deles é o inibitório, onde fica mais difícil se ativar o neurônio seguinte e o excitatório, onde o próximo neurônio é ativado.

Esquema ilustrando uma sinapse química

Esquema ilustrando uma sinapse química

Como já foi dito, os NT causam reações diferentes no organismo, as principais de cada um deles são:

  • A Serotonina atua no principalmente na modulação humor, percepção, ansiedade, agressão; Glutamato é o principal NT excitatório do sistema nervoso, é tóxico em grande quantidade, podendo causar morte celular, no entanto, em quantidades normais, é imprescindível no processo de memória;
  • A Dopamina atua no controle do movimento, em pacientes com Doença de Parkinson notamos uma diminuição da dopamina em regiões específicas do cérebro, também tem função na atenção e aprendizagem;
  • O GABA tem efeito inibitório sobre os neurônios e é o principal NT deste tipo no sistema nervoso;
  • Notamos liberação de Acetilcolina durante o sono REM (do inglês, Rapid Eyes Movement), mas também tem grande importância nos processos de aprendizagem e no movimento corporal;
  • A Adrenalina possui várias funções, entre elas se destaca a sua atuação nos batimentos cardíacos, pressão sanguínea, estados de atenção, nota-se também o aumento de adrenalina em casos de luta ou de fuga;
  • A Noradrenalina age no sistema nervoso autônomo, está envolvido no comportamento sexual e alimentar e também modula a liberação de outros neurotransmissores;
  • Já entre os peptídeos podemos encontrar a Endorfina, que age reduzindo a dor e o estresse, dentre outros neurotransmissores.

Sessão “O que é?” – Esclerose Múltipla (EM) e Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)

Por Alisson Ortega

A esclerose é o endurecimento anormal de tecidos ou órgãos do corpo, devido a vários fatores, como a produção excessiva de tecido conjuntivo, por exemplo, no entanto existem diversos tipos de esclerose, veremos as que se destacam no sistema nervoso como a esclerose múltipla e a esclerose lateral amiotrófica.

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A esclerose múltipla acomete 3 vezes mais mulheres e a média de idade é baixa, acredita-se que ocorra devido a uma predisposição genética aliado a algum fator ambiental que ainda não é conhecido. Algumas células, conhecidas como células-T estão defeituosas, mas não manifestam durante muitos anos e, após a ação do fator ambiental, que pode ser uma infecção por vírus ou após o parto, estas células invadem o cérebro. Após isto temos uma infecção que ataca a bainha de mielina (responsável por isolar eletricamente o axônio de neurônios), com a destruição da bainha de mielina os neurônios perdem a capacidade de se comunicar corretamente, principalmente no cerebelo, e temos o surgimento de alguns sintomas, como problemas motores, sensitivos, cognitivos, dores, cansaço, depressão e apatia.

Atualmente existem várias pesquisas sobre a esclerose múltipla, no entanto ainda não foi encontrada a cura, porém alguns tratamentos são realizados de forma a minimizar ou retardar os sintomas decorrentes da patologia.

Esclerose multipla

A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma patologia neurodegenerativa que ataca neurônios motores laterais da medula espinhal o que leva a atrofia e fraqueza dos músculos, além disso é progressiva, ou seja, o paciente piora com o passar do tempo, mas funções mentais como a cognição permanecem intactas. A ocorrência da doença é baixa (menos de 2 a cada 100.000 pessoas), assim como na esclerose múltipla, aparentemente está relacionada com fatores genéticos e ambientais.

Atualmente a média de sobrevida após o início da doença é de 3 a 4 anos, no entanto existem casos de pacientes que vivem por muitos anos após o início da doença. Existem várias personalidades que foram diagnosticadas com ELA, os pacientes com maior destaque são o físico inglês Stephen Hawking, diagnosticado na década de 1960 e que ainda continua produzindo artigos científicos, outro caso é o do artista plástico brasileiro Marcelo Xavier, que continua escrevendo livros muitos anos após o descobrimento da doença.

Assim como na esclerose múltipla, a ELA não tem cura conhecida, mas vários estudos estão sendo realizados e alguns medicamentos já são utilizados para tentar aumentar a sobrevida dos pacientes. No ano de 2014 a norte americana ALS Association iniciou uma campanha na internet na qual a pessoa deveria tomar um banho de água fria na cabeça com o intuito de arrecadar fundos para pesquisas, no Brasil algumas entidades, como a ABRELA, Instituto Paulo Gontijo, e Pró-Cura promovem a mesma campanha. O fato de tomar um banho de água fria se relaciona com o que o paciente sente ao ser diagnosticado com uma doença atualmente incurável.

Video games podem ajudar a neurociência a conhecer melhor o cérebro

Por Renan Henrique Gomes Damazio Assunção

O entendimento completo de todas as funções cerebrais é ainda um grande mistério que tira o sono de diversos cientistas ao redor do mundo. Neurocientistas do mundo todo trabalham em busca de respostas que possam explicar por completo nosso comportamento, sono, sonhos e diversos outros temas ligados aos mistérios do cérebro.

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As linhas de pesquisa e as descobertas da neurociência na última década vêm crescendo em nível acelerado, e uma destas pesquisas pode trazer grandes avanços para os pesquisadores desta ciência, principalmente aqueles que estudam fenômenos nos quais a replicação por meio de modelos ou em laboratório é restrita, como traumas ou violência.

Pesquisadores do Departamento de Psiquiatria e Psicoterapia da RWTH Aachen University em Aachen, Alemanha e do Departamento de Comunicação da Michigan State University no Estado do Michigan, Estados Unidos, divulgaram um estudo das relações de comportamentos cerebrais durante jogos de violência através image1de ressonância magnética que mostraram uma relação entre o uso de violência em vídeo games e áreas no cérebro ligadas a violência na vida real.

Os pesquisadores gravaram 13 jogadores homens da Alemanha que jogavam no mínimo 5 horas por semana, com idades entre 18 e 26 anos, enquanto jogavam jogos violentos de FPS (First-person-shooter ou jogos de tiro em primeira pessoa) durante 16 minutos cada, por meio de um procedimento de ressonância magnética cerebral chamado de fMRI (functional magnetic resonance imaging ou ressonância magnética funcional). Através da análise do vídeo e áudio gravados enquanto os voluntários jogavam, feita por dois estudantes de graduação da Annenberg School for Communication, University of Southern California e um supervisor (Rene Weber), as imagens de ressonância foram separadas em 5 fases: A, passivo ou morto; B, preparação/busca; C, Perigo potencial; D, Sob ataque; E, combate ativo .Segundo os pesquisadores a análise dos resultados obtidos mostrou que “a ativação do cingulado dorsal e a desativação do cingulado anterior e da amídala cerebral caracterizaram o padrão médio-frontal relacionado à violência virtual”. Estas mesmas áreas também estão ligadas ao comportamento violento em seres humanos.

Este estudo traz a discussão do uso de ambientes virtuais para o estudo da neurociência de forma a não exporimage2 os voluntários a nenhum tipo de risco. Segundo os pesquisadores Klaus Mathiak e Rene Weber, no artigo “Toward Brain Correlates of Natural Behavior: fMRI during Violent Video Games” divulgado no journal Human Brain Mapping em 2006, “ambientes virtuais podem ser usados para estudar processos neurais envolvendo um comportamento semi-naturalista”.

Embora este tenha sido o primeiro estudo a relacionar comportamentos do tipo representados através da utilização de vídeo games para atividade do cérebro específica, este estudo abre portas em diversas áreas da neurociência.

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Referências

Mathiak, Klaus; Weber, René, Toward brain correlates of natural behavior: fMRI during violent video games, Human Brain Mapping 27:948-956(2006)

ARCURI, Silvia M; MCGUIRE, Philip K. Ressonância magnética funcional e sua contribuição para o estudo da cognição em esquizofrenia. Rev. Bras. Psiquiatr.,  São Paulo, v. 23, supl. 1, p. 38-41, Maio de 2001. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462001000500012&lng=en&nrm=iso>. Acessado 27/Julho/2015.  http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462001000500012.

https://en.wikipedia.org/wiki/Functional_magnetic_resonance_imaging. Acessado 27/Julho/2015

https://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%ADgdala_cerebelosa. Acessado 27/Julho/2015